De acordo com o
arquivo mundial “Wikipédia”, Bernardo Vieira Ravasco, nasceu em 1617 - 1697(?),
foi secretário do estado e guerra do Brasil desde 1649, o que representava o
segundo cargo mais importante na colônia, logo abaixo do governador-geral, e
ainda provedor da Santa Casa da Misericórdia, era irmão do Padre Antônio Vieira (06-02-1608 / 18-07-1697).
O
crescimento das secretarias de nomeação régia, no governo português, deu-se a
partir do reinado de D. João IV de Portugal. Em seu reinado foram nomeados
apenas dois secretários, um para o Estado da Índia e outro para o Estado do
Brasil. Especificadamente para o Brasil, o cargo de Secretário foi dado pela
primeira vez por provisão régia de 17 de Fevereiro de 1646, nos mesmos moldes
do que havia sido instalado na Índia,
«que tenha a seu
cargo os papéis daquele governo com que se dará melhor expediente dos negócios
e serem mais bem encaminhados, cessando os inconvenientes que se tem
experimentado por não haver pessoa permanente neste ofício, nem arquivo em que
se guarde os ditos papéis, ficando por esta causa os governadores que entram
naquele Estado faltos de notícias dos negócios começados".
O
primeiro secretário foi Bernardo Vieira Ravasco, que recebeu o cargo por
provisão real da mesma data, para servir por espaço de três anos. Entretanto,
em "satisfação dos serviços do seu irmão, o padre Antônio Vieira" lhe
foi concedido, a partir de 7 de Março de 1650, passar a servir o cargo sem
limitação de tempo e com a possibilidade de transferir ao seu filho, Gonçalo
Ravasco Cavalcanti de Albuquerque.
De
gênio forte como o irmão, Bernardo tomou posições que o levaram por duas vezes
à prisão, apesar do cargo.
Quando
o Padre Antônio Vieira estava preso nos calabouços da Inquisição em Coimbra à
espera de sentença, em 1667, Bernardo estava no Brasil, proibido de se afastar
dos seus aposentos por mais de um ano, acusado de conspiração contra o
governador-geral D. Vasco Mascarenhas, conde de Óbidos. Em 1683, já o padre Antônio Vieira tinha regressado à Bahia, quando a família foi acusada de
cumplicidade no assassinato do alcaide de Salvador pelo governador Antônio Sousa Meneses, o Braço de Prata. Bernardo sofreu mais dois anos de prisão
encarcerado entretanto em dois conventos, onde partilhou a detenção com o poeta
Gregório de Matos, o Boca do Inferno, acusado do mesmo crime.
Descendência
Bernardo
Vieira Ravasco, o irmão do Padre Antônio Vieira, embora solteiro, teve dois filhos e uma filha de uma dama de boa família brasileira, D. Filipa Cavalcanti
de Albuquerque. Filipa tinha uma irmã mais velha, Maria, por quem outro vulto
extraordinário do século XVII português, D. Francisco Manuel de Melo, se
apaixonou quando esteve degredado na Bahia durante pelo menos três anos, até
1658, e dela teve uma filha, Bernarda, cujo padrinho foi Bernardo Vieira
Ravasco. O 2º filho de Bernardo e Filipa, que teria cargos públicos, foi
batizado Gonçalo Ravasco Cavalcante e Albuquerque (ainda grafado Cavalcanti de
Albuquerque). Em documentos do Arquivo Histórico Ultramarino, onde está
depositado um atestado de 19 de Setembro de 1719 (cota antiga
AHU_Baía,cx.10,cx.71, cota moderna AHU_ACL_CU_005,Cx.12,D.1050) é mesmo Gonçalo
Ravasco Cavalcante e Albuquerque.
Assim figura seu nome no Arquivo
Histórico Ultramarino em Portugal mas diversos documentos o tratam por Gonçalo
Ravasco Cavalcanti de Albuquerque.
Era filho de Bernardo Vieira
Ravasco e sobrinho do famoso jesuíta o Padre Antônio Vieira.
Quando o pai foi preso, acusado de
cumplicidade - como o poeta satírico Gregório de Matos, o Boca do Inferno - no
assassinato do Braço de Prata, Gonçalo tinha 24 anos. Fugiu do colégio dos
jesuítas onde se tinha refugiado e embarcou para o Reino, defender a inocência
da família, com a ajuda do tio o padre Antônio Vieira, que despachava cartas de
raiva e indignação para correspondentes em Lisboa.
Gonçalo herdou do pai as
qualidades e os defeitos da família, desde o espírito galhardo louvado por
Gregório de Matos até ao posto de secretário de estado e guerra, quando o pai
adoeceu.
Certamente para agradar o
sobrinho, Antônio Vieira escreveu e talvez tenha pregado um sermão famoso, em
honra de São Gonçalo em 1659. À morte do pai e do tio, Gonçalo tinha 38 anos.
Morreria em 1725 aos 66 anos, cavaleiro da Ordem de Cristo (o seu pai porém só
obteve o hábito da Ordem, pois uma avó paterna negra o desclassificava para o cargo de Cavaleiro da Ordem de Cristo).
Gonçalo Ravasco está sepultado na
tumba do pai, que nos leva a pensar que Padre Antônio Vieira, também esteja nesse altar junto do Santíssimo na igreja da Ordem Terceira do Carmo
em Salvador, na Bahia. Na época, havia ainda grandes polêmicas com os jesuítas
e com a Inquisição a propósito dos textos de Vieira intitulados Clavis
Prophetarum. Fora publicado em 1718, com aplausos dos censores, o texto da
História do Futuro, escrito há 60 anos, mas a grande obra da vida do Padre
ainda estava envolta em polêmicas, sequestros e indecisões.
Sua vida, como comenta a página
inserida pela Universidade de São Paulo na internet para divulgar a obra de
Sebastião da Rocha Pita, está ligada à do historiador: diz Pedro Puntoni que, pois, teria sido por encomenda da esposa de Gonçalo Ravasco que Rocha Pita
escreveu uma de suas duas únicas obras poéticas: o «Summario da vida e morte da
exma. sra. d. Leonor Josepha de Vilhena e das exéquias que se celebraram a sua
memória na cidade da Bahia», livro que foi publicado em Lisboa em 1721 na
oficina de Antônio Pedroso Garlrão.
Os dois textos poéticos do historiador «reportam o desempenho da sociedade colonial nas homenagens ao falecido rei de Portugal e à esposa de D. Rodrigo da Costa, governador do Brasil (1702-1708). Esta última homenagem teria sido feita por encomenda da esposa de Gonçalo Ravasco, secretário do Estado do Brasil que, como Manuel Botelho, era colega de letras e outras aventuras de Rocha Pita e também arriscou-se na poesia - mas pouco publicou.
Os dois textos poéticos do historiador «reportam o desempenho da sociedade colonial nas homenagens ao falecido rei de Portugal e à esposa de D. Rodrigo da Costa, governador do Brasil (1702-1708). Esta última homenagem teria sido feita por encomenda da esposa de Gonçalo Ravasco, secretário do Estado do Brasil que, como Manuel Botelho, era colega de letras e outras aventuras de Rocha Pita e também arriscou-se na poesia - mas pouco publicou.
Bernardo Vieira Ravasco - Irmão do Padre Antônio Vieira
Por Wilson Candeias
Por Wilson Candeias
Fonte:
Pesquisa livre na internet
DOIS SONETOS DOS
IRMÃOS VIEIRA
Por Alfredo Maceira
Rodríguez (UCB)
RESUMO
Apresentação e
análise de dois sonetos: um de Bernardo Vieira Ravasco a seu irmão Padre
António Vieira e outro do próprio Padre em resposta. Os sonetos não têm título
e foram compostos com a sílaba pa, no final de cada verso.
INTRODUÇÃO
Na edição
diplomática de um códice da Biblioteca de Évora, que tem como título Poesias
de Gregório de Matos, organizada pelo Prof. José Pereira da Silva em
1997 e publicada pela UERJ / DIGRAF, encontram-se dois sonetos: um da autoria
do então Secretário do Estado do Brasil, Bernardo Vieira Ravasco, dedicado a
seu irmão, Padre António Vieira, e outro, em resposta, do próprio Padre a seu
irmão. Ambos os sonetos, estão escritos com uma consoante forçada (neste caso a
consoante p, formando sílaba átona com a e
encerrando todos os versos).
A curiosidade que
nos despertaram estes dois sonetos levou-nos a tentar analisá-los e
atualizá-los, com a intenção de uma melhor compreensão dos mesmos. Assim, sem
pretender fazer uma edição crítica, reproduzimos aqui os textos dessa edição
diplomática e fazemos nossas observações a respeito, na esperança de que
especialistas como o Prof. Francisco Topa, de Portugal, os professores Ruy
Magalhães de Araújo, José Pereira da Silva, entre outros que entre nós se
dedicam a este tipo de estudos, façam seus comentários e críticas construtivas
com a finalidade de levar ao grande público a obra de autores consagrados,
porém pouco lidos. É bem sabido que a obra de Gregório de Matos, e de outros
autores portugueses e brasileiros do período colonial, quase não está acessível
ao leitor de hoje, o que nos parece uma perda para a cultura em geral.
Transcrevemos os
dois sonetos, seguidos das notas e comentários que julgamos pertinentes.
Soneto
De Bernardo Vieyra
Ravasco Secreto do Estado do Brasil.
A seu irmam o Padre
Antonio Vieyra
Consoantes forçadas
Se queres ver do
Mundo hum novo Mapa
Oytenta annos,
atenta desta cepa
por onde em ramos a
cubica trépa
e emmaranhada faz
do tronco lapa.
Morde com dentes,
que nam tem ca papa
com a lingua fere,
com a mam decépa
soldado opposto,
livre de carêpa
que de tarde e
manhaam rayvoso rapa.
Os olhos de agua,
as faces de tulipa
e cada hum dos pês
de pào garlopa
a boca grande e, o
corpo de chalupa
Obofe muyto, e
muyto pouca tripa
e a minha Muza, por
que a tudo topa
he Apa, Epa, Ipa,
âpa, upa
Soneto
Do Padre Antonio
Vieyra Em resposta
ao antecedente de
seu Irmam
mesmos consoantes.
Sobe Bernardo da
Eternidade ao Mapa
deyxa do velho Adam
a mortal cepa
pelo Lenho da Cruz
ao Impirio trepa
começando em
Bethlem na pobre Lapa.
Mais que Rey pode
ser, e mais que Papa
quem de seu coraçam
vicios decépa
que a grenha de
Samsam, tudo he carêpa
e a guadanha da
morte tudo rapa!
A flor da vida, he
cor de tulipa
tambem dos secos
annos he garlopa
que corta, como ao
mar, corta a chalupa
Nam ha mister que o
fosso, corte atripa
Se na parte vital
ja tudo topa
he Ape, èpa, ipa,
opa, ûpa.
ANÁLISE DOS POEMAS
Datação
Sabemos que o Padre
António Vieira nasceu em Portugal em 1608, sendo seu pai Christovam Vieira
Ravasco e sua mãe D. Maria de Azevedo. Ainda bem pequeno mudou-se com seus pais
para o Brasil. Seu pai sabe-se que desempenhou a função de Secretário do
Estado, cargo depois exercido por seu filho mais novo, Bernardo, até a sua
morte.
Bernardo Vieira
Ravasco nasceu na Bahia (Brasil) em 1617 e exerceu como Secretário do Estado,
cargo anterior de seu pai. Escreveu vários trabalhos principalmente sobre
administração e política coloniais. Seu nome é referenciado em manuais de
história e de literatura coloniais. Nesta literatura, ele é considerado um dos
primeiros escritores nascidos na colônia. Faleceu em 1697, no mesmo ano em que
faleceu seu irmão António.
Com relação aos
sonetos em tela, a única informação indireta de que dispomos é a que nos
fornece Bernardo em seu soneto ao referir-se a seus oitenta anos. Se realmente
o soneto foi composto em seu octogésimo aniversário, isto ocorreu no mesmo ano
de sua morte (1697), quando também faleceu seu irmão, mas este já com 99 anos.
Temática e
imagística.
Bernardo faz um
retrato de sua vida (o novo mapa), aos oitenta anos, a seu irmão, o Padre
Antônio Vieira. Inicialmente relata suas falhas: cobiça, agressividade, raiva,
etc., para logo fazer seu retrato físico, nada lisonjeiro: olhos d’água, faces
de tulipa, pés de garlopa, boca grande, corpo de chalupa, muito bofe e pouca
tripa. Porém nada disto o afasta da poesia. Sua musa (inspiração) está em
ascensão.
A esta confissão de
seus defeitos e fraquezas, responde-lhe o irmão com a elevação espiritual que
lhe é peculiar, situando-o acima de rei e de papa, acenando-lhe com a
eternidade e tecendo loas a suas qualidades morais, sobretudo a sua vitória
sobre os vícios. O que a Bernardo se lhe assemelham defeitos, são para o irmão
virtudes que o conduzirão à vida eterna.
Entre as imagens
que permeiam os sonetos, encontramos quase todas as que caracterizam o período
barroco. Assim, entre muitas outras figuras verificamos a existência de
palavras e expressões metafóricas como mapa, cepa, ramos, soldado oposto, lenho
da cruz, gadanha, garlopa e fosso.
Estrutura
Trata-se de sonetos
de versos decassílabos, com esquema rímico ABBA, ABBA, CDE, CDE. Ambos os
sonetos vêm com a indicação de consoantes forçadas, ou seja, todos os versos
sem encerram com a mesma consoante. Nestes sonetos, todos se encerram com a
sílaba átona -pa, o que é apenas um recurso formal, visto que não
interfere na rima por tratar-se de sílaba átona.
Outro recurso
gráfico usado pelos dois poetas é o deslocamento dos versos não iniciais de
estrofe em uns quatro centímetros. É apenas um recurso visual.
Ambos os sonetos
empregam quase as mesmas palavras. As rimas são feitas em ambos entre
substantivos em todos os versos, com exceção do 3o verso da primeira estrofe,
do 2o da segunda e do 2o da última, onde a rima é feita com uma forma verbal. O
verso final faz a rima com uma interjeição, implicando movimento para o alto.
Ortografia
Parece que os dois
sonetos foram compostos quase no final do século XVII, já que os dois irmãos
faleceram no mesmo ano (1697) e, pelas conjeturas expostas, pertenceriam a esse
mesmo ano. Verificamos na ortografia, entre outras grafias do português
arcaico, a permanência ainda de consoantes geminadas (annos, emmaranhada,
opposto), assim como um caso de vogais iguais com a crase sem realizar
(manhaam). O ditongo nasal tônico final ainda é grafado-am (irmam,
nam, Adam, Samsam, coraçam). O fonema semivocálico [i] em ditongos decrescentes
é geralmente grafado com y (Vyeira, deyxa, muyto, Rey,
rayvoso. oytenta), porém freitos não segue a norma. Às vezes o artigo é grafado
junto com o substantivo a que se refere, como se observa nos conglomerados
gráficos (Obofe, atripa). O numeral um recebe um h (hum),
sem justificativa etimológica.
CONCLUSÃO
Verificamos que os
dois sonetos trocados entre os irmãos Vieira, embora possam ser considerados
exercícios lúdicos, não deixam de refletir a estética barroca e transmitir
valores da filosofia dominante, particularmente da conceição religiosa, tão bem
representada pelo Padre António Vieira. O conceptismo, tão conhecido em sua
obra sacra, não deixa de estar presente neste seu soneto, assim como no de seu
irmão, que aqui se nos apresenta imbuído da mesma filosofia. Não podemos nem
mesmo descartar o estilo cultista, em alguma ocasião condenado pelo Padre, mas
que admitia não poder evitar, dada sua força expressiva na época.
A seguir,
apresentamos os dois sonetos com a grafia atualizada.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
COUTINHO, Afrânio. A
literatura no Brasil. 3. ed. rev. e aum. V. 2. Rio de Janeiro / Niterói:
José Olympio / UFF (EDUFF), 1986.
DICCIONARIO de la
Lengua Española. 21. ed. Edición electrónica. Madrid: Real Academia Española /
Espasa Calpe, 1998.
MOREIRA, Maria
Eunice. Uma história singular: Eduardo Periê e a literatura colonial
brasileira .(Paper apresentado no XIII Encontro da ANPOLL).
NOVO DICIONÁRIO
AURËLIO eletrônico - Século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
NUNES, José
Joaquim. Crestomatia arcaica. 7. ed. Lisboa: Livraria Clássica
Editora, [1970].
SILVA, José Pereira
da. (Org.) Poesias de Gregório de Mattos. Rio de Janeiro:
UERJ/DIGRAF, 1997.
VIANA, Mário
Gonçalves. Sermões e lugares selectos: Pe António Vieira. Porto: Editora
Educação
Fonte: Filologia da Arte
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